O
termo Teatro vem de origem da palavra grega theatron que significa: lugar onde
o público olha uma ação que lhe é apresentada num outro lugar. Para Patrice
Pavis, “o Teatro é mesmo, na verdade, um ponto de vista sobre um acontecimento:
um olhar, um ângulo de visão e raios ópticos o constituem. Tão-somente pelo
deslocamento da relação entre olhar e objeto olhado é que ocorre a construção
onde tem lugar a representação.”
E
o que da Teatralidade? É bem provável que este conceito tenha se originado na
mesma oposição que literatura/literalidade. A Teatralidade seria aquilo que,
“na representação ou no texto dramático, é especificamente teatral (ou cênico)
no sentido que o entende, por exemplo, Antonin Artaud, quando constata o
recalcamento da teatralidade no palco europeu tradicional...”
A
Teatralidade pode opor-se ao texto dramático lido ou concebido sem a
representação mental de uma encenação, afirma ainda o autor. Em vez de achatar
o texto dramático por uma leitura, a espacialização, isto é, a visualização dos
enunciadores, permite fazer ressaltar a potencialidade visual e auditiva do
texto, apreender sua teatralidade: “Que é Teatralidade? É o Teatro menos o
texto, é uma espessura de signos e de sensações que se edifica em cena a partir
do argumento escrito, é aquela espécie de percepção ecumênica dos artifícios sensuais,
gestos, tons, distâncias, substâncias, luzes, que submerge o texto sob a
plenitude de sua linguagem exterior.”
Essa
discussão é bastante interessante, porque ela se apresenta como um conceito que
pode alterar o sentido da palavra Teatro. Talvez – e isso é quase certo –
Teatro e Teatralidade se completem. É possível que uma viva sem a outra. Um
ator pode ser teatral durante um bom tempo. Porém, enquanto ele for teatral,
estará criando aí uma modalidade de Teatro. Paradoxal? Controverso? Não, se considerarmos
que teatral quer dizer, “muito simplesmente: espacial, visual, expressivo, no
sentido que se fala de uma cena muito espetacular e impressionante.”
Por
outro lado, podemos também entender a expressão teatral como sendo a maneira
específica da enunciação teatral, a circulação da fala, o desdobramento visual
da enunciação (personagem/ator) e de seus enunciados, a artificialidade da
representação. “A Teatralidade se assemelha, isto é, a projeção, no mundo
sensível, dos estados e imagens que constituem suas molas ocultas (...) a
manifestação do conteúdo oculto, latente, que acoita os germes do drama.”
O
fato é que não existe uma essência absoluta no Teatro. Isso faz com que
possamos enumerar alguns elementos indispensáveis a qualquer fenômeno teatral.
E um destes elementos é a Teatralidade. Não ousaria afirmar que a Teatralidade
é uma propriedade do texto dramático. Mas, certamente é o que se fala de um
texto quando ele é muito “teatral” ou “dramático”, sugerindo assim – como
afirma Patrice Pavis – que ele se presta bem à transposição cênica (visualidade
do jogo teatral, conflitos abertos, troca rápida de diálogos).
Em
breve, falaremos sobre o tema em um Seminário específico que a Câmara e o Colegiado
Setorial de Teatro estarão promovendo.
Pawlo Cidade
Presidente do Colegiado Setorial de Teatro
Curador do Seminário Teatro & Teatralidade: Conversas e Convergências
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