Cena do espetáculo "Breve" que fará parte da programação do Seminário
A palavra grupo tem sua origem
numa “categoria de organização e produção teatral em que um núcleo de atores
movidos por um mesmo objetivo e ideal realiza um trabalho de continuidade e,
estendendo sua atuação a outras áreas, principalmente no que diz respeito à
própria concepção do projeto estético e ideológico, o grupo acaba por criar uma
linguagem que o identifica.”
O que isso significa? É bom que se
entenda logo de início que a prática coletiva do Teatro não constitui em si uma
modalidade, uma vez que o Teatro tem como definição essencial a pluralidade. Ora,
apesar do Teatro ser uma arte criada por várias cabeças pensantes (cenógrafo,
atores, figurinista, coreógrafo, autor, diretor etc) ele só se torna arte no
momento do espetáculo. Momento este em que a plateia está reunida num mesmo
lugar.
Alguns estudiosos do assunto, como
Romualdo Lisboa, diretor do Teatro Popular de Ilhéus, entende como “teatro de
grupo” não uma mera organização coletiva. Vai muito mais além. Caracteriza-se
por um engajamento de toda a equipe da companhia em um projeto em que esta mesma
equipe não se desfaz logo que um espetáculo termina. Em lugar do salário
mensal, o grupo é remunerado por meio de um sistema cooperativado, onde todos -
à exceção do diretor - recebem partes iguais de um mesmo trabalho. Não
importando se o ator “A” ou “B” fez um ou mais personagens. É assim que
funciona no Grupo Teatro Total, na Cia Boi da Cara Preta e no Teatro Popular de
Ilhéus.
Não tive como consultar as demais
companhias: Maktub, Popular Jorge Amado, Maria Fumaça, Companhia Ilheense de
Teatro Musical, Casa Aberta e Arte Viva Perna de Pau. Mas, acredito que seja da
mesma maneira.
Sim, o que isto significa? Volto a
perguntar outra vez. Há aqui duas características que não se completam, porém,
se contradizem quando prefiro afirmar que entre os nove “grupos” existentes,
apenas um pode ser chamado de grupo. Levando-se em consideração o conceito de
“teatro de grupo”. Não que os outros não sejam grupos. É um paradoxo o que vou
afirmar, mas o fato é que os grupos existentes não são grupos - a exceção do
Teatro Popular de Ilhéus - à medida em que eles não estão “movidos por um mesmo
objetivo e ideal” e não realizam um trabalho de continuidade. Portanto, não
possuem “uma linguagem que os identifica.”
Por exemplo, o Grupo Teatro Total,
apesar de possuir um elenco definido que vem trabalhando o Teatro como um todo,
ainda não encontrou o “caminho das pedras”. Elenco tem, equipe tem, autor e
diretor também tem. Entretanto, ainda precisa focar. Ainda precisa encontrar
uma linha que o identifique. “Eu preciso deixar mais claro meu projeto estético
e ideológico. Meu Teatro é mais humano.” Não que os outros não sejam. Todavia,
o Grupo Teatro Total estuda uma linha. E esta linha ou é muito tênue ou
simplesmente ainda não a enxergamos.
E o que dizer dos demais? Se
tivéssemos críticos e historiadores em Ilhéus, talvez eles creditassem ao
fenômeno, uma importância histórica. Basta olhar para os anos noventa quando
existiam o CTT, Caras e Máscaras, SETA, Chocolate & Cia, GTAI, Macuco, CIT
e tantos outros na região.
Entretanto, por grupo podemos
ainda entender como um conjunto de pessoas diferentes que partilham os mesmos
objetivos e necessidades, sem, no entanto, produzir algo em continuidade que os
identifique. Isto faz com que diferentes produções possam ser avaliadas de
forma independente. O que não ocorreria com o Teatro Popular de Ilhéus. O
espectador pode até não gostar do trabalho, mas, para criticar um espetáculo,
você precisa entender a trajetória do grupo, o processo de criação e a linha de
trabalho. A crítica pela crítica não acrescenta nada.
O ator participa de um grupo desde
que tenha consciência que partilha dos mesmos valores, regras e objetivos,
características dos outros elementos que formam o grupo. “Todos os grupos,
enquanto entidade viva e dinâmica, evoluem, ultrapassando diversas etapas ou
fases de desenvolvimento durante o seu período de vida.” Os grupos estão
formando um mercado fora das salas de espetáculo dos grandes centros.
Pawlo Cidade
Presidente do Colegiado
Setorial de Teatro da Bahia
Curador do Seminário
Teatro & Teatralidade: Conversas e Convergências
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