sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O TEATRO HOJE - REFLEXÃO SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O TEATRO


Aderbal Freire Filho
I. Para refletir sobre o teatro de hoje é importante considerar a descoberta e o desenvolvimento de técnicas de reprodução, um processo histórico que começa com a fotografia. Um estudo de Walter Benjamim sobre a obra de arte na era da reprodutibilidade técnica é clássico para seu estudo.

II. O teatro é um capítulo especialíssimo dessa história,uma criação artística que é consumida enquanto se constrói e que é destruída simultaneamente. Quando surge o teatro industrial - o cinema – e o teatro eletrônico – a televisão – acontece uma profunda mudança do lugar econômico, social e cultural do teatro. A parcela da sociedade que no passado consumia teatro consome hoje preferencialmente cinema e televisão.

III. Mas em um aspecto o teatro cresceu: no desenvolvimento de sua poética. Para competir com o cinema, o teatro amplia sua poética, desenvolve novas linguagens, é capaz de absorver a produção dramatúrgica de todas as eras, vive um grande desenvolvimento artístico. E é justamente essa tensão que pode ser o ponto de partida de todo projeto de uma política para o teatro: uma arte enfraquecida economicamente e com linguagens cada vez mais expressivas.



IV. A partir dessa reflexão sobre o teatro hoje, é possível concluir: que é absurda toda tentativa de acabar com as leis de incentivo ao teatro, pois elas representam um avanço e uma conquista, que põem o Brasil na vanguarda dos processos de defesa da criação teatral nacional; que todos os teatros devem ser apoiados por políticas públicas, pois as mesmas circunstâncias envolvem todas as formas de produção; que é preciso criar mecanismos para desenvolver a cultura teatral, de forma muito especial através de programas de fortalecimento do binômio educação-cultura. E que o Estado não pode se omitir de proteger valores fundamentais do teatro nacional, como no caso específico da Sociedade Brasileira de Autores

V. A Sociedade Brasileira de Autores Teatrais foi fundada em 1917, por autores liderados por Chiquinha Gonzaga, para proteger seus direitos. Entre 1924 e 2002, publicou a Revista da SBAT, a mais importante revista de teatro do Brasil, que editou mais textos teatrais do que qualquer editora nacional. Foram sócios da SBAT Raquel de Queiroz, Oduvaldo Vianna, pai e filho, Joracy Camargo, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Dias Gomes, Manuel Bandeira, Gianfrancesco Guarnieri, Carlos Drummond de Andrade, João Bethencourt e muitos outros grandes escritores brasileiros. As mudanças estruturais do teatro foram quase fatais para a Sociedade de Autores, que vive uma crise monumental. Sua congênere Argentores, da Argentina, superou as crises decorrentes das mudanças estruturais do teatro graças a concessões públicas que a fortaleceram. Agora é o momento de o estado participar ativamente de um processo de salvação da Sociedade de Autores, no quadro da proteção ao teatro brasileiro.

Aderbal Freire Filho
Atual Presidente da SBAT  
Este texto foi escrito em dezembro/2008

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