quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FERNANDO MARINHO FALA SOBRE SUA CARREIRA E REVELA DETALHES DA PEÇA “UM VELÓRIO MUITO ESTRANHO”



Fernando Marinho, (foto) que recentemente protagonizou a montagem “Camila Baker”, é ator, diretor e artista visual, atuando na área desde a década de 70. Durante a sua trajetória no teatro, Fernando foi um dos fundadores da Companhia Baiana de Patifaria. Ainda acumula as funções de curador do Festival de Música Instrumental da Bahia, coordenador geral da Associação Instrumental da Bahia e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado da Bahia (SATED-BA). Em entrevista ao Bahia Notícias, ele conta sobre sua carreira no meio artístico, revela detalhes da montagem de “Um Velório Muito Louco” e da necessidade de aproximar o público do teatro. “Ver o cotidiano incorporado no cotidiano, ver a realidade sendo brincada, sendo revista, sendo criticada dentro de um espetáculo, torna tudo mais interessante e curioso. As pessoas se divertem por conta disso”, conta.

Bahia Notícias - Você atualmente dirige a peça “Um Velório Muito Estranho”, que estreou no último dia 13, no Teatro Sesc Casa do Comércio. Como surgiu a ideia?

Fernando Marinho - Na verdade essa já é a terceira montagem da peça. A primeira foi em 2000, em Feira de Santana, já que o Luiz Gomes [autor da peça] é de lá e a proposta inicial era essa. Fizemos uma longa temporada e depois, com o afastamento de dois atores, o grupo acabou se desarticulando e o espetáculo ficou paralisado. Um desses atores se mudou para Salvador e também deu a ideia de realizá-la aqui. Ele conseguiu o financiamento, inscreveu o projeto no Fazcultura [programa de incentivo da Secretaria Estadual de Cultura] e acabou conseguindo duas empresas de Feira para patrocinar a peça em Salvador. Fizemos outra longa temporada, quase que o ano todo, passando pelo Teatro Módulo, no Teatro Monet, que não existe mais, e em algumas cidades do interior. A peça acabou em 2010. Agora em 2011, surgiu esse convite da produção e do Sesc Casa do Comércio para esse projeto do verão e remontamos a peça. Tivemos que substituir dois atores da montagem anterior, porque já estavam ocupados com outros projetos.




BN - Você tem formação na área jurídica. Como você partiu para o lado das artes e começou a se dedicar à música e ao teatro?

FM - Minha formação na verdade iniciou através do teatro e da música, minha vida toda sempre foi muito voltada para as artes. Convivo com a música desde os cinco anos de idade e depois disso vieram as outras artes. Fiz artes visuais, pintura e escultura e só depois veio o teatro. Comecei trabalhando como ator, depois como diretor, fundei a Companhia Baiana de Patifaria... O Direito, só veio muito depois. Na verdade, não fiz Direito pra me tornar um advogado, minha intenção era seguir a carreira diplomática, mas acabei desistindo e me voltei novamente para a área artística. O Direito na verdade me deu muita base para lidar com a área de produção, com a área de gestão cultural, de lidar com administração pública. Eu acabei trabalhando também para o Estado durante sete anos, em alguns órgãos públicos, fui gestor.

BN - Você foi um dos fundadores da Companhia Baiana de Patifaria e também já trabalhou em outras peças onde homens interpretam papéis femininos, como “Camila Baker”. O que você acha da sua carreira ser tão marcada por papéis femininos? É difícil interpretar uma mulher no teatro?

FM - É difícil sim, é muito complicado. É um papel que exige um trabalho mais cauteloso, de adentrar a esse universo feminino. Até mesmo o próprio figurino do personagem, do homem vestido daquele jeito já é um provocador de riso. Até mesmo pra quem trabalha com comédia, com a intenção de fazer, já é um primeiro passo. Mas durante a minha carreia isso não foi propositalmente feita, aconteceu e acabei desenvolvendo e trabalhando dessa forma. Realmente foi muita coincidência e no teatro é uma coisa muito comum.

BN - Esse estilo de peça, onde homens se vestem de mulher, é muito comum aqui na Bahia. Você acha que esse estilo só funciona aqui, por já ter caído no gosto do público, ou funciona no teatro geral?

FM – Certamente é geral. Eu acredito que esse estilo de humor é interessante e funciona muito, até mesmo para o trabalho do próprio ator de desenvolver o personagem. Na realidade, é muito comum, que vem de muito tempo, e dentro do humor sempre gera bons resultados. O próprio figurino do personagem acaba agindo até como um facilitador da comédia, como provocador de riso. Então, certamente, é um estilo que funciona.

BN – No espetáculo vocês utilizam muitos jargões e gírias tipicamente baianas. Você acredita que isso aproxima o público da peça? Eles criam uma intimidade maior com os atores?

FM - Sim, com certeza. Inclusive porque isso lhe deixa muito mais próximo da sua própria história. No espetáculo se brinca muito com isso, com críticas ligadas a administração pública, do que foi mal feito, do que não foi feito, todos os problemas ligados a administração de um modo geral. Até mesmo os escândalos ligados à política, que também são buscados e brincados dentro do espetáculo, e outras coisas referenciais mesmo. São tantos escândalos e se tornaram tão comuns que as pessoas terminam lidando quase como uma rotina. Então, tudo isso é utilizado como um humor de referência. Na realidade você convive com essas coisas todas, com os problemas da cidade, com os problemas do estado, os escândalos, as fofocas, as notícias, as coisas que acontecem nas novelas, nos cinemas, os Big Brothers da vida. Tudo na verdade acaba fazendo parte do seu cotidiano e ver isso incorporado na realidade, sendo brincada, sendo revista, sendo criticada dentro de um espetáculo, torna tudo mais interessante e curioso. As pessoas se divertem por conta disso e você ainda cria uma atualidade pra peça.

BN - Em outras oportunidades você já trabalhou com Luiz Gomes, o autor da peça, e com Adriano Lima, que faz parte do elenco. Esse contato anterior facilita o entrosamento entre vocês?

FM - Sim. O primeiro contato, tanto com Luiz, quanto com o Adriano, foi no primeiro espetáculo que eu montei na vida, o primeiro que eu assumi a direção, também lá em Feira de Santana, a convite do meu amigo Márcio Sherrer. Depois conheci o José Guedes e o Adriano e formamos o elenco de “Graxeira, Graças a Deus”. Foi um espetáculo de muito sucesso na época, e volta e meia ele reaparece. Teve uma vida longuíssima, ganhou vários prêmios, vários festivais. Em 2000, Adriano pediu pra montarmos uma nova peça e eu solicitei a Luiz um novo texto, que foi “Um Velório Muito Estranho”, e ,a partir daí, demos início ao projeto.

BN - Como é o clima nos bastidores? Essa coisa da montagem dos personagens, de homens se maquiando,  usando salto alto, vestidos... Deve surgir uma descontração maior. Vocês já encaram tudo com humor antes mesmo de subir aos palcos?
Sem dúvida. Comédia tem que ser isso. Se você não se diverte durante o processo, ela não decola. Se você não se diverte no fazer, no entender aquilo, no brincar com a aquilo, no se dispor a trabalhar com aqueles ícones, seguramente não vai funcionar. Porque ou você se diverte pra passar isso pras pessoas ou isso não vai acontecer. 

FONTE: Entrevista concedida a Karen Monteiro. 
Publicada no site http://www.bahianoticias.com.br em 24 de janeiro de 2012.

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