Diz o dito popular que “a ocasião
faz o ladrão.” No Teatro, este ditado ganha contornos que se contrapõem ao
adágio, já que a expressão “ladrão” passa a ser pejorativa. Refiro-me a um
termo comum, mas, pouco percebido no processo de criação: a circunstância. Uma ou
mais circunstâncias compõem uma cena ou uma peça inteira no Teatro.
As circunstâncias são
particularidades que acompanham um determinado fato ou, no sentido real da
palavra, uma situação. A circunstância caracteriza-se pelo estado atual das
coisas, da conjuntura. Está escrito no dicionário.
São as circunstâncias que
facilitam ou permitem a compreensão, segundo Patrice Pavis. São, entre outras, “coordenadas
espaço-temporais, temas de enunciação, dêiticos (elemento que tem por objetivo
localizar o fato no tempo e espaço sem definí-lo. Alguns pronomes
demonstrativos podem ser expressões dêiticas bem como certos advérbios, a
exemplo de “lá, cá, onde, aqui, etc), portanto, tudo o que pode esclarecer a ‘mensagem’
lingüística e cênica e sua enunciação.”
As circunstâncias criam o contexto
do espetáculo. Em sentido mais restrito e mais estritamente lingüístico, “o
contexto é o círculo imediato da palavra ou da frase, o antes e o depois do
termo isolado, o contexto, no sentido do contexto verbal e em oposição ao
contexto situacional. Desse modo, uma cena, uma tirada só fazem sentido quando
colocadas em situação e vistas como transição entre duas situações ou duas
ações.”
Entretanto, podemos ver também as
circunstâncias pelo ângulo da interpretação, do ponto de vista do ator que, ao “receber
as circunstâncias” precisa criar “circunstâncias paralelas” para compor sua
personagem. A essa conjuntura o ator ver-se obrigado a se dobrar as situações. É,
indiscutivelmente, uma faca de dois gumes. Primeiro, pode agravar o processo de
criação; segundo, como se diz na criminalística, pode “atenuar a culpabilidade
de quem a praticou.”
Portanto, as circunstâncias no
processo de criação podem ser agravantes ou atenuantes. E isto está
estritamente ligado há alguns fatores, entre eles a condução das cenas pelo
diretor. Sabe aquela história em que um amigo pode resolver um problema a dois?
Pois é, o mesmo amigo pode acabar com os dois!
Pawlo Cidade, curador de Teatro e Teatralidade.
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